Primeiro a declaração de interesses: trabalho numa
“Indústria” e ainda por cima na área do Marketing, por isso tão bem quanto
outra pessoa qualquer, percebo o conceito de “negocio” e o facto de as empresas
procurarem o lucro.
Assim sendo, espero que a minha posição daqui para a frente
fique clara!
A indústria musical (ou discográfica, ou lá como lhe queiram
chamar) é o resultado das acções dos seus operadores: os músicos responsáveis
pelo produto; as editoras responsáveis pela promoção; os media enquanto canal
de distribuição; e outros.
Não vou assumir qualquer tipo de posição panfletária. É
muito fácil criticar todos estes agentes, e a tentação até aumenta quando (como
é o caso) sentimos que até tínhamos condições para pelo menos, estar um pouco
mais “dentro” do sistema.
Mas não o vou fazer.
Nunca procurei fazer parte dele de forma muito activa, por
isso não me posso queixar das mensagens não respondidas, dos telefonemas
prometidos ou das respostas do tipo “a pessoa responsável não está disponível”.
Digamos que apenas tive as experiências necessárias para perceber que isto
acontece, mas nem vou arriscar dizer que é a regra.
Nunca procurei fazer parte do sistema porque nunca lidei
muito bem com a ideia de que a música que ajudo a criar seja um produto. Como
não a procurei formatar a nenhum modelo pré-concebido, acho que a posso chamar
de arte, esse chavão tão amplo que quase tudo pode abraçar.
E na minha opinião, a arte vale por si. Se alguém a quiser
comercializar e se alguém a quiser comprar, óptimo: eu também o faço, à arte
dos outros. Mas não é isso que me move. Pelo contrario, a experiência da
criação e da partilha (desinteressada) são já recompensas suficientes.
Tenho pena que a indústria musical nacional esteja como
está, uma vez que me parece que há imensos “produtos” de qualidade que poderiam
estar a ser colocados nas “prateleiras do éter”. Tenho pena que as modas
continuem a ser o padrão e que as caixinhas continuem a moldar a música que sai
cá para fora. Acho que podia ajudar a mudar a coisa, e não necessariamente com
a música que faço. Se alguém desse lado estiver a ler o que escrevo, deixo a
sugestão: encarar outra vez a arte como mais que um produto pode ser a saída. E
outra seria começar a ver nos artistas a fonte da prosperidade em vez de uma cambada
de empecilhos que anda sempre a chatear para se marcar uma reunião...
Eu que também trabalho numa indústria, percebo que uma das
fontes de sustentabilidade é aquilo a que se chama prospecção de novos
negócios. E acho estranho que não seja assim em todas as áreas, pois está mais
do que certo que sem inovação qualquer negocio está condenado a extinguir-se (e
lá voltamos nós a falar da indústria musical!).
Nunca quis fazer parte deste sistema que tem regras que não
se deviam, em minha opinião, aplicar à arte. Nunca fiquei desapontado por não
passar nas “grandes” rádios, porque também não me revejo no papel que elas
assumem. As playlists são o seu
contributo para a criação de uma sociedade formatada, pouco critica e aberta à
multiplicidade. Não vou fazer nada para fazer parte delas.
Por isso, aqui fica o produto dos Flirt, para quem quiser,
livre de amarras, euros ou qualquer outro tipo de constrangimento. Espero que o
desfrutem, mas se não for esse o caso, tudo bem na mesma :)