quinta-feira, 31 de julho de 2008

NÃO QUERO MAIS (A CULPA DE NÃO TER NOTADO)

Pode até não parecer, mas esta foto é mais uma das que colecciono de Lisboa. Desta vez o bairro visado é Alfama, um dos óbvios e meus favoritos. Caia água pelas goteiras cheias da chuva da noite anterior, que o Sol, como se vê, procurava agora secar. Não tem mais história, não tem mais que se diga. É um recanto, no meu cantinho que é Lisboa.
Durante a gravação do disco e inspirado em alguns dos meus trejeitos a cantar, bricava com o João Eleutério (um dos produtores do disco) que parecia um fadista a tentar cantar rock… se calhar carrego esse fardo, não deliberadamente nem com particular orgulho, mas mais como uma carga genética com a qual sei conviver.

TUDO O QUE TENHO A PERDER

Esta foto foi tirada no cemitério judeu, em Praga. Estive nesta cidade, absolutamente maravilhosa, por duas vezes. Acho que é verdadeiramente indescritível. O cemitério está no centro da cidade e quase se resume a um amontoado de pedras tumulares empilhadas e caídas como esta. A experiência de passear por ali não tem nada de mórbido ou tétrico: o espaço realmente tem algo de apelativo do ponto de vista estético e casa lindamente com o glamour da cidade. Não tem a ver com ela, mas assenta-lhe bem, de uma forma que me parece ser mais eloquente em imagens.

MORRI ANTES DO TEMPO

O Sri Lanka sempre foi um destino de sonho para mim. Não sei bem porquê nem de onde veio esta fixação. Uma das memórias antigas que tenho é a de ver maravilhado um programa de TV, “O misterioso mundo de Arthur C. Clarke” e pensar porque raio é que aquele tipo decidiu ir morar para um sítio remoto do qual eu nunca tinha ouvido falar…
Estive lá em 2004, concretizando assim esse desejo. Apesar de já ter tido a chance de estar em locais que considero globalmente mais fascinantes, gostei imenso de lá estar. Arrisco-me a dizer que foi o meu primeiro destino verdadeiramente exótico.
Concretizar este desejo teve um significado especial por se ter realizado neste ano. Foi um período de enormes mudanças na minha vida e uma fase que jamais esquecerei. As lágrimas e a dor valeram cada instante de felicidade que se seguiu, como as bonanças devem saber sempre depois da tempestade.

EU SOU (EGO VIRTUAL)

Não vou revelar muito sobre esta foto… ela foi tirada numa praia paradisíaca da costa alentejana, que sinto vai o sendo cada vez menos! Devia haver um pacto entre todos aqueles que já a visitaram de não revelar o seu nome. Sei que isso seria privar as pessoas de conhecerem um sítio magnifico, mas pelo que tenho visto com o passar dos anos, a degradação parece ser um destino difícil de evitar.
Sendo assim, mesmo sem pacto, decido não revelar o local em concreto! Já chega começar a vê-lo escarrapachado em algumas revistas sugerindo-o como um lugar para pessoas a mais o visitarem…

quarta-feira, 30 de julho de 2008

NUM IMENSO CÉU VOAR

Em 2005 passei por um dos locais mais fabulosos que vi até hoje: o parque Serengeti, na Tanzânia. Para além do óbvio, da emoção da experiência do contacto cruel com a natureza no seu estado mais primário, e de sentir emergir de dentro de mim os instintos furtivos dos nossos antepassados (apenas cacei e com a câmara fotográfica - seria incapaz de caçar de outra forma…) o que mais me deslumbrou foi a sensação de horizonte. Pela primeira vez tive em terra a sensação que no mar se não estranha: a de infinito, a da fusão com o céu lá ao fundo.
Acho que é disso que as pessoas falam quando se comovem com as lembranças de África. Também eu agora me tornei um eterno nostálgico perante essas paragens.

terça-feira, 29 de julho de 2008

CULPADO

Em frente a uma estufa de morangos, que perfumavam o ar com uma profunda determinação, uma cerca de arame farpado procurava delimitar espaço nenhum. Aquele espaço foi feito para ser trespassado, aquelas veredas criadas para serem desbravadas. O frio e o calor, a aspereza e a doçura, estão lá. Agradam-me esses contrastes e esses confrontos. Estão nos locais por onde ando e nas pessoas que me rodeiam e que me divirto a observar.
Esta cerca estava estancada no Alentejo.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

SINTO, LOGO EXISTO

Dedico parte do meu tempo a escrever. Não sei se tenho muito jeito mas nisto, como noutras coisas da minha vida, conto com a persistência do espírito para me aproximar da perfeição. Dar pequenos passos apenas, isso já será aproximar-me.
Sei que nesta como noutras coisas da minha vida jamais sentirei o perfume dos génios que me fazem comover com as palavras. Mas isso já há muito tempo que me deixou de importar: essa ideia megalómana e algo pueril de querer mudar o mundo já está arrumada num cantinho escuro da minha alma, e hoje, se apenas conseguir causar um arrepio a alguém já chega para me alimentar o ego quanto baste.
Uma das demonstrações da minha determinação (chamei-lhe persistência atrás) e da minha falta de jeito está bem patente na forma como recorrentemente visito os mesmos temas. Um deles, sempre presente é representado metaforicamente por cicatrizes: as marcas que nos deixam as experiências porque passamos e as pessoas que foram importantes por nós.
Busco incessantemente por essas cicatrizes, o que me torna num ser perigoso (estou sempre a avisar…). Atraem-me nelas a ideia de permanecerem no meu corpo para além da memória e a adrenalina da mudança, do trajecto.
Como estou ainda a falar metaforicamente, pareceu-me que esta imagem tinha algo a ver comigo. Uma porta é só por si um símbolo de passagem, de transição: o cenário ideal para iniciar a experiência marcante. E é de cicatrizes que esta porta é feita.
Esta foto foi tirada em 2007, numa rua em frente ao largo da Misericórdia, em Lisboa.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

EM CIMA DE TI

Um dos sítios por onde é fácil ser descoberto aos fins-de-semana é no Bairro Alto. Não necessariamente à noite, apesar de continuar a ser o meu local de eleição para ir beber uns copos… mas também durante o dia, a calcorrear as ruas estreitas. Acho difícil falar do Bairro Alto sem usar uma imensidão de clichés e por isso não me sinto muito tentado a fazê-lo. Nem sem bem a razão exacta pela qual é um sítio que me atrai tanto: talvez por ser no coração da cidade; talvez por me sentir livre entre a diversidade e a descontracção reinante.
Faço lá por vezes, algumas excursões fotográficas: câmara em punho e ipod nos ouvidos.
Não sou um fotógrafo compulsivo nestas ocasiões. Mas sinto que estou mais atento aos detalhes do que estaria sem a câmara. Vou com o objectivo claro de fotografar!!! E esses detalhes surgem à minha frente com enorme facilidade, o que não quer dizer que todos dêem boas fotografias…
Um dos meus amigos, o João Oliveira, que tirou algumas das fotos da banda que podem encontrar no nosso site, interage com as pessoas que fotografa, tenta saber a sua história e por isso grande parte das suas (fabulosas) fotografias têm histórias para se contar. No meu caso, já o disse anteriormente, sou voyeur, e tento passar despercebido aos olhares dos meus alvos.
Tenho um certo prazer perverso em assumir este papel, e sinto a adrenalina típica do adolescente que não quer ser apanhado a fazer asneira querendo muito fazê-la… mas percebi, enquanto arrumava as ideias para a selecção das fotos do book do CD, que não iria usar muitas fotos com pessoas. Isso aumentava o risco ele se tornar uma sucessão de histórias às quais poderia ser difícil atribuir um denominador comum.
Esta foto tem o pombo que é Lisboa, o ambiente decrépito do Bairro Alto e a atmosfera da ambiguidade que procurávamos.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

DEIXA DE ME ATORMENTAR

Esta foto foi tirada numa das janelas da Casa do Mar, no Baleal perto de Peniche. Gostei do contraste, do mar sereno sob as nuvens pesadas. Estava a viver uma nova paixão nessa altura, uma paixão que começava a conhecer. Espreitava para dentro de mim através daquilo que via lá fora, e como os promontórios das histórias dos navegantes, também eu me sentia ficar mais fortalecido. O mar estava calmo e assim esteve sempre. E eu mais forte me mantive. Foi um mar a que me entreguei como sempre faço quando me sinto apaixonado. E ainda bem que me deixo afogar sem resistir.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ESTRATOSFERA

Elevador de Santa Justa na baixa de Lisboa. Adoro passear por lá, entre o Chiado e o Rio. Sou fascinado por Lisboa, acho que é uma cidade sensual que me “flirta” a todo o instante. Adoro a sua luz e as suas formas. Acho que Lisboa tem sido generosa para mim e gostava de lhe retribui o bem que me faz sentir. Talvez um dia possa deixar mais vincadas as minhas marcas nas suas paredes, nos candeeiros, nos bancos de jardim. Ser capaz de lhe dizer de frente que a amo.
Lisboa não para de me surpreender e esta foto procura transmitir um pouco essa vertigem.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

FIM DO MUNDO (TODOS VÃO PERDER)

Estive em 2004 em New Orleans depois de uma breve passagem algo atribulada por New York. Existem algumas cidades no EUA que sempre estiveram na minha lista de locais que ansiava conhecer, e nesta viagem tive oportunidade de ir a duas delas.
New Orleans deve ser hoje uma cidade igual à que encontrei nessa altura, pois acredito que a energia que emana deve ter sido suficiente para curar as mazelas que a natureza, neste intervalo de tempo, provocou. Não sei se isso é verdade ou não, mas acredito que sim.
Existem algumas imagens que retenho desta cidade: o cheiro a tinto misturado com cerveja e vómito que desde a manhã perfumava as ruas à saída do hotel; a música que começava a ecoar nos bares desde o início das tardes e que para além desses locais confinados visitava cada recanto da cidade; a magia negra e o voodoo que pairavam omnipresentes no ar, parecendo querer ser mais do que bugigangas para serem levadas pelos turistas; os miúdos bêbados emborcando desalmadamente como que desejando acelerar a noite; o sexo e o deboche que se insinuavam a cada esquina.
Hei-de voltar a New Orleans. Voltar a ver e ouvir Big Bands em bares quase decrépitos (estarão ainda de pé?) em sessões contínuas, escutar pasmado os músicos de rua e sentir a adrenalina da Bourbon Street (que nome tão adequado!).
Esta senhora (bruxa?) estava num largo, perto de um jardim. Por detrás dela um negro tocava tuba acompanhando um outro que cantava de forma a ecoar por toda a praça, a despique. Fiquei tentado a pedir-lhe que me lançasse as cartas, subjugando a razão ao encanto dos seus olhos penetrantes. Não o fiz, talvez por me sentir inebriado com todo o cenário à minha volta e isso não me ter ajudado a tomar decisões. A dormência que me provocou a sensação de ser aquele um lugar onde me iria sentir bem certamente, se por ali ficasse mais tempo.


FIM DO MUNDO (TODOS VÃO PERDER)
Vou iniciar uma série de posts que dizem respeito às imagens que fazem parte do book do “Arquétipos da Alma”.
Desde que nos iniciámos nesta aventura, sempre pensei que a coisa teria mais graça se o caminho fosse traçado em conjunto com mais pessoas, amigos que me habituei a admirar. Foi um objectivo que ficou por ser atingido na plenitude, apesar de algumas colaborações que fui conseguindo captar. Mas fica-me esta sensação de que gostaria de ter mais gente e gente a fazer mais coisas, como se desejasse que a fantástica experiência que tem sido este processo devesse ser experimentada pelos que gosto. Mas provavelmente pensei que as pessoas de que falo iriam sentir tanto entusiasmo como eu em torno do nosso disco e isso talvez fossem expectativas demasiado elevadas. Os tios ou mesmo os avós sentem certamente o nascer de uma criança de forma diferente da dos pais… e no nosso caso pensei que poderia ter um conjunto mais alargado de progenitores, mas pensei mal…
Daí que ao contrário do que tinha planeado inicialmente, as imagens que decoram o disco são da minha autoria. Não me interpretem mal: a fotografia é outra das minhas paixões, talvez uma daquelas a que me entrego menos mas mesmo assim uma paixão! Tenho a noção de ser um genuíno amador, mas isso não me impede de andar por aí de máquina em riste e trazer à superfície ao voyeur que carrego cá dentro.
E além disso, o conceito estético que tínhamos planeado para o book mantém-se, ou seja, conseguimos recriar o cenário cromático e imagético que planeámos.

Aquilo que vou fazer nos próximos posts é contar um pouco a história das fotos. Não vou falar sobre a relação que têm ou deixam de ter com as músicas a que dão cor: as fotos não foram tiradas com esse propósito por isso não vale a pena inventar… são uma selecção das minhas fotos preferidas e como disse atrás pareceram-nos alinhadas com o ambiente que queríamos criar. Não escondo que pensámos nalgumas associações com os temas (foi isso que definiu o alinhamento) mas não quero entrar por aí.
Talvez o meu único propósito com isto seja dar-me um pouco mais a conhecer e partilhar convosco algumas das experiências por que tenho passado.