segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Hoje, dia 26 de Novembro é o dia 1.
Passa pouco depois da meia-noite, e queria deixar registado qualquer coisa que marcasse o momento, que ficasse gravado para além da memória que sei, mais dia menos dia, me há-de atraiçoar.
Vamos hoje para estúdio, começar as gravações do “Arquétipos da Alma”. Sim, este será o nome do nosso primeiro álbum, e mais tarde poderei falar um pouco sobre a razão pela qual se chamará assim.
Mas hoje não, hoje quero deixar registadas parte das coisas que sinto. Parte apenas, pois o turbilhão é imenso e coisas há que estão para lá da explicação, ou da minha capacidade de as transpôr em palavras.
Sinto que começa hoje um marco na minha vida (gosto mais da palavra em inglês, milestone...). Não me refiro ao que pode acontecer a partir daqui e por isso não estou a pensar nas portas que se abrirão agora que metemos a chave na fechadura; nem estou a pensar em revoluções que podem fazer destituir o rumo das coisas instituídas como estão.
Falo sobretudo do momento em si, despojado das pontes para o passado e para o futuro. Sim, é isso, falo do presente.
No conjunto escasso das coisas que recordarei no final dos meus dias, se a isso me for dada a oportunidade, sei que este momento vai constar. Mesmo que outros venham, tão ou mais arrebatadores, este momento será sempre inabalável.
Nunca senti o desejo de deixar o meu ADN, que não este, neste mundo. Sei que o mundo ainda está de costas voltadas para mim e pode ser que assim fique, surdo aos gritos que emano cá do fundo. Mas as sementes que lanço agora para a terra vão ficar por cá, sofrer metamorfoses, crescer à custa da passagem do tempo e dos elementos. Contra tudo e contra todos, o meu ADN vai fazer parte da cadeia de acontecimentos que hão de vir, mesmo que não sejam a carne e o sangue a dar-lhe forma.
Se posso fazer melhor?
Claro que posso fazer melhor!!!
É aliás essa a certeza que me mantém o alento perante a rotina, e os olhos postos no horizonte, conduzindo os meus passos.
Os padrões com que dou colorido às músicas ainda não são os que quero dar. Falta-me o espaço e a autonomia que as folhas em branco me dão sempre a ilusão de ter. Na poesia sinto ainda pouca liberdade de movimentos e espero que as feridas, os sorrisos, os arrepios, o calor, o choro e o riso me consigam dar mais habilidade para ser mais profundo com as palavras.
Mas estas vão já ficar por cá, enquanto outras não ofuscarem o seu brilho. Este ADN vai fazer com que morra de pé como as árvores, mesmo que toda a gente me tente derrubar.
Sei que na palidez das coisas feitas, desbotadas pelo brilho das que hão de vir, hei de conseguir, pelo menos em alguém, arrebatar um sorriso que seja. Só isso vai valer a pena.
Quando nos metemos nestas coisas a que gostamos de chamar arte, descobrimos no processo, que afinal o nosso ADN perdura nos outros. Tal como quando temos um filho. O ADN que perdurará na Terra para lá do nosso tempo não são as músicas ou as palavras que fazemos: são as emoções que despertamos nos outros, a vontade que geramos nos outros de nos deixar entrar, nem que seja por momentos, nos seus mundos. E uma vez lá dentro, esses mundos nunca mais serão os mesmos.
Vou forçar a entrada. Tenho procurado fazer isto a vida toda, e agora chegou o momento de o assumir.

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