Fui pensando havia qualquer coisa semelhante a criar um filho adoptado nisto de aprender a interpretar músicas que não foram compostas, arranjadas ou tocadas por mim até agora. E num certo sentido é assim. Mas é verdade que a coisa entranha-se. E de repente é como se aquelas circunstâncias fossem irrelevantes: as músicas são tão "minhas" quanto de quem as criou e lhes deu corpo. Gosto muito, cada uma à sua maneira, das malhas do Fruto Proibido. De umas, gosto mais enquanto baixista; de outras, gosto delas como ouvinte de música; de outras, é a letra que me toca.
Nesta semana ando a re-consumir o Arquétipos da Alma, o 1.º disco. Ando a ouvi-lo com a abordagem do baixista recém-chegado à banda: uma orelha mais analítica do que lúdica tenta descobrir as notas com que o meu sócio Freitas, o primeiro baixista dos Flirt, deu corpo aos graves; o outra orelha, com perfil mais - digamos - orquestrador e arranjador vai fazendo a prospecção das novas roupagens que cada música permitirá. Não sei o que dará mais gozo, se reinterpretar as linhas de baixo do Dikk no Fruto, se reinventar mais a fundo as malhas do Arquétipos.
Seja como for, isto está a ser muito divertido. Temos literalmente centenas de horas de ensaios pela frente até isto estar no ponto que aparentemente corresponde aos nossos padrões de qualidade - e de gozo. Mas temos a percepção de que o resultado final, ao vivo, será qualquer coisa; e que o facto de sermos homenzinhos e nos respeitarmos uns aos outros vai ajudar muito. Estou a gostar realmente muito de trabalhar assim, meio caminho entre ser metódico sem concessões e curtir a rockada de sorriso no beiçol.
Corre em paralelo o pai em construção que eu sou com o baixista do Flirt que se vai fazendo. É curioso: toda a gente tem a sensação de que passou períodos infrutíferos, estéreis, entediantes na sua vida; actualmente, estou no antípodas disso. O Zé Pedro, o meu tardio primeiro filho, ameaça cada semana passar-se para o mundo ex utero; a (re)apresentação dos Flirt ao vivo ameaça também tornar-se uma realidade até ao fim do ano. Tanta coisa boa a nascer no mesmo ano... sou um gajo com sorte.
Flirtaços e flirteijos!
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